Educação

Acolhimento de professores é essencial na retomada das aulas presenciais

O início do ano letivo é sempre marcado por expectativas e reencontros. Este ano, particularmente, é ainda mais significativo, pois embora a maioria das escolas tenham retomado as aulas presenciais no final do segundo semestre de 2021, é para este início de 2022 que as atenções estão voltadas.  É como se só agora as aulas verdadeiramente começassem. É hora de receber a comunidade escolar e saber como cada um chega, sejam os gestores, os professores e os alunos.

Ao colocar os professores como peças-chave neste retorno, é preciso considerar que muitos deles passaram por questões desafiadoras, tanto no ponto de vista profissional quanto pessoal nos últimos meses. Consequências do período recluso da pandemia, desgastes por conta dos arranjos e adaptações na rotina de trabalho com as aulas remotas, e em alguns casos, o luto pela perda de amigos e familiares.  

De acordo com o estudo “Desafios e Perspectivas da Educação: uma visão dos professores durante a pandemia”, realizado pelo Instituto Península em setembro do ano passado,57% dos educadores responderam que gostariam de receber apoio psicológico e emocional, principalmente para lidar com as questões impostas pela pandemia. Esse apelo promove a reflexão de que para o professor desempenhar bem sua função e garantir a aprendizagem das crianças e jovens, ele precisa estar bem como um todo. E, neste momento de retorno, isso se torna ainda mais fundamental.

Mas como fazer da escola um ambiente de acolhimento e de diálogo?

A escola sem seus integrantes é apenas um prédio sem vida. É preciso olhar para as pessoas que a compõe, suas necessidades, medos e sonhos, fazendo com que o espaço escolar seja um local de trocas e de interesses mútuos.

“É urgente que esse retorno seja marcado pela escuta dos alunos, pelo reconhecimento de seus saberes e necessidades. Ao mesmo tempo, é essencial escutar os professores e outros participantes da comunidade escolar, suas expectativas para o novo ano e identificar que apoios se farão necessários para que o projeto educativo da escola se concretize. Assim, a escola poderá ser, efetivamente, um lugar de pertencimento para todos”, esclarece Ana Flavia Castanho, Coordenadora Pedagógica da Plataforma Vivescer, iniciativa do Instituto Península.

Para melhor direcionar essa necessidade, o Instituto Península desenvolveu o Documento de Orientações para o Acolhimento”. O material compartilha reflexões e ferramentas valiosas para que os gestores escolares possam acolher professores, estudantes e outros membros da comunidade escolar, criando um campo de abertura para o diálogo dentro da escola.

Acolhimento na prática

Em São Caetano do Sul/SP, o período de retorno às aulas chamado de “Preparando a Escola” começou com um café da manhã coletivo e uma reunião entre todos para abordar diversas pautas.

 “A primeira delas foi combinar que eu seria mediadora dos temas e das conversas que aconteceriam no dia e que outro professor cuidaria do tempo e do registro das memórias que seriam construídas por todos no retorno”, relata a gestora escolar Meire Bernardi, da EMEI Professora Dulce Junquetti, que participou de um dos encontros formadores da Vivescer sobre acolhimento.

Após a conversa, os integrantes da escola acompanharam um vídeo intitulado “Ser ou não ser”, propondo aos professores uma reflexão existencial. A ideia da exibição era a de correlacionar o vídeo ao momento presente para que, assim, cada um compartilhasse suas impressões e comentários. O próximo passo foi dividir os presentes em grupos e entregar a eles diferentes textos para leitura. O objetivo foi de estimular a troca de impressões e reflexões acerca do que cada um precisa observar e cuidar neste retorno para além da aprendizagem em sala de aula e dos conteúdos pedagógicos.

As perguntas “O que é acolhimento na vida?”, “Como criar um ciclo acolhedor na escola?” e “O que é acolhimento saudável para crianças?” direcionaram a roda de conversa. Sobre essa experiência a gestora comenta: “A formação com a Vivescer me proporcionou um olhar mais cuidadoso sobre o acolhimento. Um acolhimento que não deve ser só consequência de um período de adaptação, mas uma ação legítima de pertencimento a um local coletivo, no caso a nossa escola.”

Encontro de acolhimento com os professores da
EMEI Professora Dulce Junquetti.

É importante ressaltar que, não é qualquer tipo de escuta ou qualquer tipo de diálogo que estamos falando, e sim, de uma escuta ativa, interessada e uma troca entre os participantes onde todos estejam seguros para compartilharem suas questões, e para que isso aconteça é preciso estabelecer uma relação livre de julgamentos ou críticas.

“Entendemos acolhimento como uma cultura que convida à escuta e à cooperação, num processo de corresponsabilização de todos pelo projeto educativo da escola”, explica Ana Flávia. Faz parte desse movimento amparar os professores para que não se sintam sozinhos ou pressionados a darem conta dos desafios dessa retomada, como por exemplo o resgate da aprendizagem dos estudantes — ou de qualquer outra demanda pedagógica.

Para ser efetivo, acolhimento precisa ser contínuo

Segundo a coordenadora “uma escola acolhedora, acolhe em diferentes níveis: na relação com a comunidade mais ampla, nas redes de apoio que estabelece entre seus funcionários, no planejamento de um ano letivo, na escuta e troca de ideias entre educadores e na ação de cada professor em seus encontros com os alunos. Ou seja, para que um professor possa acolher e ser acolhido é preciso que o acolhimento permeie a comunidade escolar como uma cultura da escola.”

O acolhimento, quando faz parte da cultura escolar, cria as bases para que a escola seja efetivamente um lugar de pertencimento, um espaço seguro de ensino e de aprendizagens e que dialoga de perto com a Educação que acreditamos, onde o educador tem espaço para exercer plenamente sua ação educativa e todo estudante tenha a oportunidade de desenvolver plenamente os saberes e as competências necessários para expressar seu potencial, e assim, seguir seu propósito de vida e exercer criticamente sua cidadania.
Acesse o “Documento de Orientações para o Acolhimento” e saiba como fazer o diagnóstico de sua escola.

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