Educação

Professor brasileiro indicado ao “Nobel da Educação” reforça a importância da valorização docente para o desenvolvimento do país

Educador capixaba defende investimentos na formação inicial e continuada de professores

“Há potência na Escola Pública, e é nosso dever social pôr em evidência e jogar luz em boas práticas”. A frase é de Helder Guastti, professor nos municípios de João Neiva e Aracruz, no Espírito Santo, e único educador brasileiro entre os 50 finalistas do prêmio Global Teacher Prize, conhecido como “Nobel da Educação”, que reconhece o trabalho de educadores em mais de 80 países.

Com o projeto nomeado “Como diz o outro”, o professor resgatou, junto a seus alunos do 5º ano, contos populares de tradições orais e os transformou em um livro feito pelos estudantes e ilustrado com imagens feitas por inteligência artificial. 

O projeto foi um dos responsáveis pelo aumento do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) da escola, passando de 6.4 em 2021 para 6.8 em 2023.

Em um bate-papo com o Instituto Península, Helder contou mais sobre sua atuação como professor, sua visão sobre a carreira docente e a urgência da valorização de professores para o desenvolvimento do país.

Como foram seus primeiros anos como professor?

Os meus primeiros anos foram de muita ânsia. Muitas inquietações. Hoje eu permaneço ainda um profissional muito inquieto. Isso que me move a seguir em frente, buscando sempre mais e melhor. Os primeiros anos foram cheios disso, porque eu queria me estruturar numa formação inicial, que me desse um suporte, uma estrutura de competências básicas, muito firme.

Quais são suas referências para a criação da iniciativa “Como diz o outro”? 

O projeto surge da necessidade de preservar e revitalizar os contos populares brasileiros, que são uma parte essencial do nosso patrimônio cultural. Este projeto não apenas resgata elementos tradicionais como quadrinhas, parlendas, provérbios, ditos populares, trava-línguas e adivinhas, mas também busca adaptá-los ao contexto contemporâneo utilizando ferramentas modernas como a inteligência artificial para a criação de ilustrações.

A que você atribui o sucesso dessa ação? Formação inicial? Formação continuada? Troca com outros professores? A própria prática? 

Creio que uma combinação de todos esses fatores… Busco sempre meu aperfeiçoamento. Estudo muito, pesquiso, participo de cursos, formações… Tudo sempre com o propósito principal de ressignificar minhas práticas e encontrar maneiras diversas e possibilidades variadas para poder oportunizar as melhores experiências e vivências a meus alunos.

Hoje, poucos jovens escolhem a docência. A que você atribui esse fato?  

Infelizmente, apesar de termos um discurso social muito marcado que diz que o professor é muito importante e que sem ele não há outras profissões, na prática vemos uma desvalorização constante da carreira docente.

E essa desvalorização se dá de diversas maneiras: falta de recursos, não pagamento do piso salarial, formação precária, entre outros. 

Não é muito atrativo para os jovens, pois, a meu ver, além de todas as dificuldades que sabemos que existem, ainda há jornadas de trabalho extensivas e remuneração baixa.

Recentemente, o MEC ofereceu uma ajuda financeira para aumentar a atratividade da carreira (Programa Pé-de-Meia Licenciaturas). Você acha a medida importante? O que mais poderia ser feito?  

Eu vejo que toda forma de incentivo ou de tornar a docência atrativa é bem-vinda. Eu vejo que com a valorização real do docente, do magistério, bons salários, estrutura de funcionamento, de sala de aula, de recursos, isso tornaria a profissão mais atrativa.

Como você acredita que uma boa formação docente impacta o aprendizado dos alunos?

A boa formação docente é fundamental, ela é essencial. É fundamental que haja uma boa base de formação inicial em nossos profissionais, mas também uma base excelente de formação continuada, porque o professor deve estar em constante formação (…), uma formação de qualidade que dialogue com as necessidades da sala de aula e com uma construção reflexiva do processo de ensino-aprendizagem.

Como único brasileiro finalista deste prêmio, o que você acredita ser necessário para que mais professores brasileiros sejam reconhecidos por suas práticas de excelência? 

Primeiramente mais informação. Iniciativas como essas, infelizmente, ainda são pouco difundidas entre os docentes. Creio que devemos estudar bastante e nos empenhar ao máximo na promoção e efetivação de boas práticas, que considerem, de fato, as crianças como centro de todos os processos. Para isso precisamos não apenas ouvi-las, mas considerar suas inferências e participações em nossas atividades e processos. Também há a necessidade de um maior envolvimento e valorização por parte do poder público. Quando todos passarem a compreender que valorizar o professor e a educação é valorizar nossa própria sociedade, muita coisa mudará. Para melhor.

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